Identidade do Menor Infrator.

Identidade do Menor Infrator.
26/06/94.

Nasci não sei quando numa data que não lembro;
Alguns dizem que é outubro e outro diz que é setembro.
Pai e mãe não conheci, como um sonho mau relembro;
Meu endereço é na praça, debaixo do viaduto;
Quando a fome aperta assalto, tendo eu que ser astuto.

Eu já tenho quinze anos, todos pensam que é só dez.
Eu sinto frio no corpo e descalços são meus pés.
Pra mi manter na ilusão, bem longe da realidade;
Com cola disfarço a fome, o craque mi dá coragem;
Falando bem a verdade:
Até no álcool me embriago pra disfarçar a friagem.

Quando um carro da polícia toca a sirene por perto;
Eu me sinto como cobra, esmagada no deserto.
Diante de tal suspense e calafrios de pavor;
Eu não sei se fico ou corro,
Não sei se oro pra Deus, ou pra quem peço socorro.

Este é o meu dia-a-dia, dos meus dias pelas ruas.
Não há nenhum exagero é verdade nua e crua.
Quem quiser vir comprovar, afaste-se do conforto,
Venha comigo ao relento;
No primeiro vendaval, estando exposto ao vento;
Você há de concordar, que por não saber amar,
O homem plantou ruínas...

...As pragas praguejam tudo, se expandem como ravinas;
O joio mistura ao trigo, não dando boa a farinha.
Saia desta sua inércia faça o bem aos semelhantes.
Distribua pão e mel, prova um pouco deste fel,
Misturando-se aos semblantes;
Destes pobres inocentes, que por falta de amor,
Transformaram-se em delinqüentes.

Jorge Cândido.