Flagelados.
04/01/93.
O Sol esturricava o meu roçado, E os bois morria na mais cruel desnutrição.
Os filhos desmelingüidos, Quase nus de pés no chão;
Rogávamos pra Deus piedade, Mandasse por caridade,
Mesmo que fosse migalha; Alguém de alguma bondade,
Com algum pedaço de pão.
A seca assolava o meu Nordeste, Judiava o meu sertão.
Novena e mais novenas, Pouco tinha solução.
Parecia que o castigo, Não tinha fim não senhor!
Até mi dava impressão, Que Deus não era mais Pai,
E negava o Seu amor.
Os socós cantavam tristes, Escondidos no grotão.
A cacimba empoeirada, Não tinha mais água não.
Não se via por ali, O canto das saracuras.
Só restava nós morrer, E no momento prever,
Pra cavar a sepultura.
O purgatório com os dem..., Na mente eu tinha a ilusão;
Que mudou de endereço, mudando pro meu sertão.
A gente só via as queimadas, A todo instante é o que via;
E a toda hora do dia, por ali na redondeza,
De fome alguém morria.
Eta tristeza danada! Ouvir o canto de oração;
De recomendação as almas, De alguém morto no caixão.
A seca tão grande era, Que os nossos Olhos secou.
Foi tanta calamidade, Que o Sol sem piedade,
Nem os prantos perdoou.
Toda esta história da seca, Durou quase dez verão.
Sorri com um pouco de alegria, No dia que deu trovão.
Todo o céu escureceu, Relâmpago riscou no ar.
Era dez horas do dia, Parecia meia noite;
E a chuva do céu desceu...,
...Minha tapera amarrada de cipó; Era feita aos rés do chão.
Lá fora o meu cão uivava, De baixo de um pé de mamão.
O coitado parecia, Que no momento previa,
O que ia acontecer; Assustava aos ribombados,
E com os coriscos tremia.
Durou pouco a alegria, Do meu povo no sertão.
Parecia que o dilúvio, Derramava sobre o chão.
Tudo virou um mar só; Quando acabou a tormenta,
Na garganta deu um nó; Ficou tudo destruído,
De baixo d’água barrenta.
Diante de tais perigos, Meu esforço foi em vão.
Perdi o resto que tinha, Foi tudo pro ribeirão.
Só restou eu e a mulher, E mais um filho de braço;
O restante Deus levou, Tirando do sofrimento, Pra junto do Seu regaço.
Nós ficamos desprevenidos, Sem nenhuma condição.
Ficamos sem lugar pra morar, Sem nada, só o pé no chão.
Quando a água baixou, Por causa da podridão;
Fomos apanhados pelo tifo; De febre nós três caímos,
E não bastou oração.
Foi uma semana de chuva, Alagado até ao espigão;
Nós ficamos numa ilha, Sem saber pra onde ir não.
Foi vinte dias de flagelo, Com fome, frio e penúria;
... até quando Deus chamou.
Sem recurso nós morremos, Pra dizer: Glória Senhor!
Jorge Cândido.
04/01/93.
O Sol esturricava o meu roçado, E os bois morria na mais cruel desnutrição.
Os filhos desmelingüidos, Quase nus de pés no chão;
Rogávamos pra Deus piedade, Mandasse por caridade,
Mesmo que fosse migalha; Alguém de alguma bondade,
Com algum pedaço de pão.
A seca assolava o meu Nordeste, Judiava o meu sertão.
Novena e mais novenas, Pouco tinha solução.
Parecia que o castigo, Não tinha fim não senhor!
Até mi dava impressão, Que Deus não era mais Pai,
E negava o Seu amor.
Os socós cantavam tristes, Escondidos no grotão.
A cacimba empoeirada, Não tinha mais água não.
Não se via por ali, O canto das saracuras.
Só restava nós morrer, E no momento prever,
Pra cavar a sepultura.
O purgatório com os dem..., Na mente eu tinha a ilusão;
Que mudou de endereço, mudando pro meu sertão.
A gente só via as queimadas, A todo instante é o que via;
E a toda hora do dia, por ali na redondeza,
De fome alguém morria.
Eta tristeza danada! Ouvir o canto de oração;
De recomendação as almas, De alguém morto no caixão.
A seca tão grande era, Que os nossos Olhos secou.
Foi tanta calamidade, Que o Sol sem piedade,
Nem os prantos perdoou.
Toda esta história da seca, Durou quase dez verão.
Sorri com um pouco de alegria, No dia que deu trovão.
Todo o céu escureceu, Relâmpago riscou no ar.
Era dez horas do dia, Parecia meia noite;
E a chuva do céu desceu...,
...Minha tapera amarrada de cipó; Era feita aos rés do chão.
Lá fora o meu cão uivava, De baixo de um pé de mamão.
O coitado parecia, Que no momento previa,
O que ia acontecer; Assustava aos ribombados,
E com os coriscos tremia.
Durou pouco a alegria, Do meu povo no sertão.
Parecia que o dilúvio, Derramava sobre o chão.
Tudo virou um mar só; Quando acabou a tormenta,
Na garganta deu um nó; Ficou tudo destruído,
De baixo d’água barrenta.
Diante de tais perigos, Meu esforço foi em vão.
Perdi o resto que tinha, Foi tudo pro ribeirão.
Só restou eu e a mulher, E mais um filho de braço;
O restante Deus levou, Tirando do sofrimento, Pra junto do Seu regaço.
Nós ficamos desprevenidos, Sem nenhuma condição.
Ficamos sem lugar pra morar, Sem nada, só o pé no chão.
Quando a água baixou, Por causa da podridão;
Fomos apanhados pelo tifo; De febre nós três caímos,
E não bastou oração.
Foi uma semana de chuva, Alagado até ao espigão;
Nós ficamos numa ilha, Sem saber pra onde ir não.
Foi vinte dias de flagelo, Com fome, frio e penúria;
... até quando Deus chamou.
Sem recurso nós morremos, Pra dizer: Glória Senhor!
Jorge Cândido.
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