23 de agosto de 2009

Tempos Que Não Voltam Mais

Mudança de hábitos (22/08/09)
(22/08/09)

Uma situação que eu vivi na infância e na adolescência que hoje nem os adultos vivem. É a fertilidade de imaginação.
As estrelas, a Lua e as nuvens, nos inspiravam a não pensar nas possibilidades que até então não se cogitava.
O por do Sol era um excelente convite para sentar-se encostado nas paredes, nos barrancos. Que cadeira qual nada, era no chão mesmo que se sentavam os vários vizinhos. Os meninos adoravam embiocar-se no meio dos adultos, porque era deles que se ouviam as mais espetaculares estórias. Os chamados causos. Não tinha outra coisa para fazer. As noites nos sítios eram extremamente longas. Tirando o domingo quando se batia uma bolinha, o resto da semana, ou íamos admirar as estrelas em noites escuras, ou a Lua em noites enluaradas. Porque durante o dia é claro, tinha de dar duro ou no cabo da enxada, ou colher os frutos da colheita depois de vários dias até meses de preparo a roça.
A mente infantil, atenta, não perdia um pormenor do que os adultos falavam. Do cotidiano se falava pouco. Mas as estórias fantasmagóricas eram uma atrás da outra... E o interessante que as crianças criam tanto naquelas estórias pra lá de absurdas, que não conseguiam depois as vezes, dormir em paz. Acordavam as tantas horas da noite assustadas pelas impressões das estórias de lobisomem, mula sem cabeça, caipora, negrinho do rio; e muitas outras da mitologia popular conhecida de todas as pessoas mais antigas.
Isto parecia uma aberração, mas ajudava na formação da personalidade da criança. As estórias tinham sempre como pano de fundo um sentido educativo apesar de horripilantes. Os personagens maus eram os que se davam mal nas estórias. As assombrações atacavam sempre as pessoas que tinham feito muitas maldades. Mas apesar do medo, da insônia, ou dos pesadelos; as crianças não abriam mão daquela descontração dos adultos. Todos os dias a noite estavam lá, de olhos arregalados e ouvidos bem atentos, para não perder uma só vírgula das estórias.
*
Estas referências desapareceram no esquecimento com o desenvolvimento da tecnologia. As estórias ficaram enlatadas nos grandes rolos cinematográficos, nos CDS e câmeras televisíveis. As informações são tantas e tão rápidas, que as pessoas sequer lembram-se das mensagens que foram passadas dois intervalos antes dos comerciais. O que as pessoas viram hoje, amanhã não adianta comentar mais porque a notícia ou as informações já estão ultrapassadas. E desta forma o tempo começa a passar rápido, e mais rápido que o tempo, é a perca da inocência.
Valores humanos são desprezados e quando a gente pensa que nossos filhinhos são ainda crianças, apesar da pouca idade estão mais por dentro dos assuntos dos adultos, que não mais nem vale a pena comentar nada.
E assim nesta aceleração, o pai não vê o tempo passar, não consegue ver o aparecer do primeiro cabelo branco, e tudo ficam despercebidos. As datas de nascimento dos filhos são recordadas, porque sentem vontade de comer bolo e cantar parabéns, senão até isso cairiam no vale do esquecimento.
*
Hoje o homem vive super acelerado sem entender a razão e o porquê?!
Ele vive fora do contexto do desenvolvimento tecnológico do seu tempo.
Não consegue absorver tanta tecnologia inventada para atender um mercado consumista e não para ajudar na sua tão sonhada evolução.
JORGE

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